domingo, julho 08, 2007

Aparências...



Ontem, meu pensamento era um veleiro que oscilava de um lado para outro
com as ondas, e se movia ao sabor dos ventos de uma praia a outra.

E o veleiro de meu pensamento estava vazio de tudo. Só possuía sete vasos,
cheios com tinta de sete cores diferentes, tal como um arco-íris.

Um dia, enfadei-me de viajar pelos mares e decidi voltar com o veleiro vazio
do meu pensamento para a terra onde nascera.

E comecei a pintar meu veleiro com cores amarelas como o pôr do sol, e
verdes como o coração da primavera, e azuis como o teto do céu, e vermelhas
como o horizonte em chama; e desenhei sobre as velas e o timão formas
estranhas que atraem a vista e encantam a imaginação. Entrei então no porto da
minha terra, e o povo todo saiu ao meu encontro com aleluias e regozijos, e
conduziram-me à cidade ao som dos tambores das trombetas.

Fizeram tudo isso porque o exterior do meu veleiro era colorido e atraente,
mas ninguém entrou no interior do veleiro do meu pensamento. E ninguém
perguntou o que havia trazido do além-mar no meu veleiro.

Então disse comigo mesmo: "Enganei a todos, e com sete vasos de cores, iludi
seus olhos e sua imaginação".

Um ano depois, embarquei novamente no meu veleiro.

Visitei as ilhas do Oriente e lá recolhi a poeira do ouro, o marfim, o
zircônio e as esmeraldas, e todas as demais pedras preciosas. E fui às ilhas
do Norte e delas trouxe as sedas e os escudos mais aperfeiçoados, e todas as
variedades de armas.

Enchi o navio de meu pensamento de todas as coisas valiosas da terra e de
todas as curiosidades.

E voltei ao porto da minha terra, pensando:

"Agora, meu povo me glorificará com razão e me receberá com regozijo
merecido".

Mas, quando atingi o porto, ninguém saiu ao meu encontro, e percorri as ruas
da cidade, sem que ninguém me desse a menor atenção.
E falei nas praças públicas, enumerando os tesouros que havia trazido. Mas o
povo olhava-me com desprezo ou zombava de mim e passava. Voltei ao porto,
triste e perplexo. E quando vislumbrei meu navio, dei-me conta de uma coisa
de que não me apercebera nas ocupações de minha viagem. Gritei, dizendo:

"As ondas do mar apagaram a pintura das paredes do meu navio.
E os desenhos das velas murcharam sob o efeito do calor do sol e dos ventos
e da espuma do mar.
Reuni os tesouros do mundo num caixão flutuante e voltei a meu povo; e ele
me renegou, pois seus olhos só vêem as aparências"...

Gibran Khalil Gibran


Acredito que este texto conclui o que acontece na vida da maioria dos seres humanos e, principalmente, de nós homossexuais! Reflitam! E comentem!

Falando em aparências, temos que parabenizar a Rede Record e ao Márcio Garcia (a cada sábado mais gato, diga-se de passagem! rs) pelo quadro "As aparências enganam" do programa "O Melhor do Brasil", que é o melhor do Brasil não só de nome, né? O quadro tem uma importância muito grande, ao meu ver, quebrando a imagem de promiscuidade ligada ao homossexualismo! Mostrando que somos pessoas normais como qualquer outra. Só penso que ao mostrar o companheiro do homossexual, no final do quadro, deveria ser comentado alguma coisa sobre o (grande) preconceito enfretado por todos nós!

É isso!
Beijo!

PS. Rapha (queisso.zip.net) não consegui comentar no seu blog, ok?