segunda-feira, novembro 30, 2009

Armário, Rótulos e Outros

Um Artigo interessante que recebi já há algum tempo...
 
Por Adriano de Lavor
 
 
Hoje, com toda a visibilidade conquistada pelos movimentos sociais, é muito mais comum conversar ou ouvir falar sobre as diversas orientações sexuais. Aparece no cotidiano quando surge a dúvida a respeito daquele colega de trabalho: será que ele é? É uma questão discutida quando uma voz da MPB se assume como bissexual, que faz barulho quando uma transexual é a personagem de um filme premiado, quando uma atleta famosa declara tranqüila que é lésbica. Enfim, hoje – mesmo que a intolerância e o preconceito ainda façam vítimas, inclusive fatais – falar sobre as múltiplas orientações sexuais dá sempre ibope. E, por isso mesmo, tá na boca do povo.
Invisível ficava aquela sua parente distante, que todo mundo teimava em rotular de "moça solteira". Quase despercebido passava aquele primo da sua mãe, que nunca aparecia nas festas de família com namorada alguma. Esquecido ficava o adolescente afeminado que fugia dos primos machões como diabo foge da cruz. Cada dia que passa, mais espaço se abre para que o exercício da individualidade se conquiste como direito de fato em nossa sociedade.
Quando começamos este século XXI, estávamos vivendo a adolescência de nossa adormecida democracia. As iniciativas sociais, proibidas durante o período da ditadura militar, abriram espaço para que hoje o Brasil fosse o país campeão no número de paradas da diversidade sexual. Esqueça a implicância com seu amigo militante. Graças à persistência de gente como ele, você circula com desenvoltura pelo espaço que ocupa hoje. Tá certo que ainda estamos longe de conseguir modificar as estatísticas perversas que apontam um assustador número de assassinatos contra homossexuais. Mas a discussão pelo menos está nas ruas, nas famílias, nos meios de comunicação. E isso já é meio caminho andado.
A inclusão de novas tecnologias de comunicação e de transporte – levando e trazendo, a cada instante, gente e informação, de um lado para o outro – também desempenham papel importante na construção desta nova realidade. Pessoas se comunicam abertamente, sem censura, pelos canais mais diversos, das mais diferentes partes do globo terrestre. Fácil saber como anda a vida da trava amiga na Itália: basta conseguir seu e-mail. Rápido se confere a foto do bonitão que seu amigo tá pegando, lá na Nova Zelândia: está lá, enorme, no álbum que ele criou no Orkut. Isso sem falar nas possibilidades de encontro: com msn e celular todo mundo descobre onde se divertir quando viaja. "Jacaré que não anda vira bolsa!", diria Louis Vuitton!
Essa visibilidade temática, aliada à facilidade de comunicação e de deslocamento entre as pessoas, acabou socializando uma série de comportamentos que, há bem pouco tempo, seriam considerados inadequados ou mesmo inaceitáveis. Hoje, é muito mais confortável sair do armário. Há, ainda, um preço a se pagar por isso, mas nada comparável ao horror de ser descoberto, de ser chantageado em troca do silêncio. Quem assumia uma sexualidade não convencional sumia do mapa social. Hoje, tem gente que se assume para virar notícia! É, assim mesmo!
Quem imaginaria isso há pouco mais de 20 anos? Lembro de uma sessão do filme "A lei do desejo", do Almodóvar, que assisti, em 1987, no cine Gazeta, em Fortaleza. Na cena em que o então estreante Antonio Banderas sacava um beijo avassalador em outro ator, mais da metade do cinema levantou-se e deixou a sala, indignada. Quem imaginaria isso em tempos de "Brokeback mountain"? Sei de milhares de histórias de gente que quis correr quando viu, pela primeira vez, dois homens ou duas mulheres se beijando em público. Era um trauma! E o mais sintomático: o susto ainda era maior quando o espectador já tinha feito muuuuito mais do que beijar!
Na real, era aquela velha história do "come quieto", das intenções veladas, dos olhares silenciosos e do desejo reprimido. Hoje, tempo em que "elas só pensam em beijar" e o Bruno Gagliasso chora porque não beijou o peão na novela, uma geração descobre como é delicioso ser exatamente o que se é. Gênero é gênero. Preferências estão à parte. Por isso mesmo, é muito mais confortável experimentar o "outing", descobrir como se comportam as roupas do lado de fora do armário.
Em primeiro lugar, hoje tem-se a sensação de não estar sozinho. Basta prestar atenção quando ecoam, em lugares públicos, os versos do Renato Russo: "gosto de meninos e meninas...". Até quem não concorda, canta. Não estou dizendo que, de uma hora para outra, os preconceitos foram dizimados e a violência não conspire contra esta liberdade conquistada. Mas pelo menos há espaço para interlocução, troca de experiências e conseqüente afirmação de uma nova realidade.
É por isso que aqui fiz questão de transformar GLS em gente linda e simples, subvertendo a rotulação hermética de gays, lésbicas, simpatizantes, bissexuais, travestis, transexuais e de quem mais chegar... Somos, cada um de nós, um caldeirão único, onde fumegam juntas posturas, preferências, escolhas e curiosidades que escapam da sigla e tomam corpo mesmo é nas nossas atitudes sociais.
Se aceitarmos nossas diferenças e formos fiéis aos nossos próprios princípios, a porta do armário vai estar sempre aberta para que circule o ar. Roupa e gente paradas só criam bolor e ácaro. Por isso que dizem: quem vive na caixa é boneca e sapato! Gente linda e simples, ao contrário, entra e sai do armário, permitindo que as idéias circulem e que as subjetividades se apresentem. Gente assim, que abriu suas portas para a vida, sabe que fica bem mais fácil deixar os rótulos de lado e curtir realmente os outros – exatamente porque são diferentes de nós.
 
 
Parece simples sair do armário pelo texto, não é? Mas, acho isso muito relativo... E vocês?
 
Beijo

3 comentários:

Anônimo disse...

ok !!! amigo obrigadinho pela visita eu ja add seu link ok
http://mansportsensuality.blogspot.com/ link o meu !!! hum

Unknown disse...

Oi Kaka!

Há quanto tempo! Comecei a ler de baixo para cima, os posts que não tinha lido.
Acho incrível como as pessoas acabam agindo da mesma forma que os antigos, claro que de forma atualizada, também não poderia ser diferente já que somos cria dessas gerações. A virgem, incalta, tímida, reservada, era disputada e assim que perdia sua condição era esquecida e difamada. Claro que seu inquisidor espalhava isso para todos saberem o quão fácil ela era e o quão varão ele era. A força e a esperteza perante a sensibilidade e a fome por amor. Usou joga fora. Passamos por diversos movimentos que trouxeram a tona minorias, mas não melhorou a forma como nós nos relacionamos, é a eterna fome de poder, de mostrar como sou melhor que você, a famosa visibilidade, por aí passaram as feministas e hoje, passam os homossexuais. Ganharam visibilidade, os grupos, mas o que ganhamos de concreto com isso? Ser diferente, por si só, já acarreta preconceito, o humano não sabe lidar com algo "estranho" e não sabe lidar com essa estranheza, consciente ou não, segrega, humilha, tenta eliminar. Olhe dentro do movimento homossexual, passivos são taxados, ativos igualmente, isso sem falar dos travestis, cada gênero parece estranho dentro do universo que deveria acolhê-los. O choque não faz outra coisa a não ser afastar mais, se aquilo me assusta não quero manter contato, se sei que o fogo me queima, a minima sensação de calor, me fará afastar. Ainda não conseguimos acabar com a superficialidade, a mediocridade, e de preferência sem correr riscos. Os velhos mesmos sabores, os mesmos odores, as mesmas sensações. Se você se envolveu com um vizinho é mais complicado limá-lo da sua vida, mas o mundo virtual trouxe uma facilidade extra, avalio, usando o padrão que estou acostumado, não gostei, deleto, bloqueio, é fácil, está ao alcance de um clique. Não evoluímos, criamos ferramentas, inventamos a ciência, a tecnologia e não inventamos uma forma de nos olharmos como membros de uma mesma espécie, biologicamente parecidos, parceiros numa pequena gleba desse mundo.

E vamos vivendo na nossa forma medíocre de ser.

Leo Carioca disse...

Oi, amigo!
Hoje é dia 23 de Dezembro e estou passando pra desejar um feliz Natal pra você!
Depois a gente se fala melhor!
Grande abraço!